terça-feira, 19 de maio de 2015

Raí pede a renovação do contrato de Ceni e admite que pensaria se fosse convidado para treinar o São Paulo



Por Jorge Nicola

















Raí em seu escritório; ele é garoto-propaganda de quatro empresas (Nelson Coelho)

Com a maturidade de um cinquentão, mas a mesma capacidade de fascinar as mulheres dos tempos em que era ídolo do São Paulo, 15 anos atrás. Assim está Raí, que completou cinco décadas de vida na última sexta-feira. O craque recebeu o Blog em sua empresa, na Zona Oeste de São Paulo, para um papo franco, no qual falou sobre a aposentadoria de Rogério Ceni, marcada para 6 de agosto, a eliminação tricolor nas oitavas de final da Libertadores, a relação com o sobrinho, filho de Sócrates, que é gerente de futebol do clube, e como reagiria caso fosse convidado para treinar o time… Ídolo de milhões de são-paulinos, ele ainda detona a CBF e vê o futebol brasileiro no caos por causa dos altíssimos salários. 

BLOG_ Você completou 50 anos na sexta. Qual a sensação de se tornar um cinquentão?
RAÍ_ Eu não me sinto mais velho, mas sei que as coisas e os projetos, a partir de agora, têm de ser precisos. O meu desafio é pensar em como posso ser útil daqui para frente. Quero passar por um período de estudos para escolher bem.

Surpreendeu-se com a eliminação do São Paulo diante do Cruzeiro nas oitavas de final da Copa Libertadores?
Fiquei chateado e frustrado, como são-paulino. Mas, pelo que o time apresentou ao longo do ano, não dá para falar que cair nas oitavas de final foi algo surpreendente. Foram muitos problemas que ajudaram a explicar a eliminação.

Como quais?
A questão da crise política, os problemas de saúde do Muricy, a falta de um sucessor do Kaká… Ele saiu em dezembro, nós já estamos em maio e o São Paulo ainda não encontrou um substituto para ele. A verdade é que o time regrediu.

Então, o título do Campeonato Brasileiro é algo inviável?
O São Paulo vai ter de evoluir bastante, porque larga atrás de alguns favoritos. A vantagem é que existem, no próprio elenco, peças importantes, que dão peso à equipe. 

E o Rogério Ceni: para em agosto ou continua?
Se eu fosse o presidente, não deixaria o Rogério Ceni parar agora. Eu ainda gostaria de vê-lo no time, como líder e como goleiro, porque ele tem rendido. Mas é uma decisão muito pessoal. E, a partir do momento em que ele parar, começará um novo ciclo. O São Paulo vai ter de se reinventar a partir daí.

O Gustavo Vieira de Oliveira, que é seu sobrinho, o consultou antes de aceitar o cargo de gerente de futebol do São Paulo?
O Gustavo me ligou e eu dei a maior força. A dúvida dele era largar uma carreira bem-sucedida como advogado, e eu disse que ele teria muito a contribuir, por causa da relação próxima com a direção, por ter crescido no mundo do futebol… Apesar do pouco tempo no clube, ele já se estabeleceu por lá.

É verdade que ele, filho de um corintiano lendário, como o Sócrates, virou são-paulino por sua causa?
É, sim. Ele e o Rodrigo, os dois primeiros filhos do Sócrates. E isso é motivo de muita alegria, mas também é reflexo daquela fase do São Paulo da década de 90, que, além de ganhar tudo, ainda encantava em campo.

O Gustavo o consulta sobre contratações e outras coisas?
Nós trocamos ideias, mas não com tanta frequência.

A discrição dele é uma sugestão sua?
Não, mas acho uma ótima saída. Pela função que o Gustavo exerce e por ser sobrinho do Raí e filho do Sócrates, não seria bacana se ele abrisse mão da discrição. Esse estilo está o ajudando bastante.

Assim como o Gustavo, você fez milhares de pessoas virarem são-paulinos. Tem ideia de quantos?
Essa era uma coisa que eu tinha curiosidade de saber. Até pensei em fazer um levantamento, porque semanalmente, nas redes sociais, aparece gente dizendo que virou são-paulina por minha causa. E acontece com frequência de conhecer pais que puseram o nome nos filhos de Raí. E até de Raíssa.

Algum caso já o emocionou?
Vários, principalmente quando é o filho que vem me falar, orgulhoso, que se chama Raí porque o pai gostava de mim.

Você chegou a ter um cargo no São Paulo, em 2002. Por que não deu certo?
Minha função era fazer a ligação entre a base e o profissional, mas não era uma função bem definida. Eu tinha projetos, mas, como não me deram muita autonomia, preferi sair uns três meses depois.

Nunca pensou em ser treinador do Tricolor?
A vida me levou para outros caminhos. Talvez, se eu tivesse tido uma proposta um ano depois de parar… Mas comecei a trabalhar no universo do terceiro setor, criei a Fundação Gol de Letra, que acabou se tornando um sucesso, e me afastei do futebol.

O São Paulo está sem técnico. Aceitaria assumir o lugar que era do Muricy Ramalho?
Eu pensaria. Mas não seria o ideal, porque não me preparei para isso, não tenho experiência. Seria o tipo de convite que mexeria, porque tenho uma história muito grande no São Paulo. Já tive vontade de ser técnico, mas o ritmo de vida que isso traz, sem fim de semana, com viagens e concentrações, nunca me atraiu.

Já falou sobre o tema com o Leonardo, que acabou enveredando para esse caminho?
Ele disse que a função de técnico é deliciosa, mas a qualidade de vida é péssima.

Você ainda joga bola?
Muito pouco. Quatro ou cinco vezes por ano, em jogos beneficentes. O joelho esquerdo deixou sequelas. E, para falar a verdade, sinto falta de me divertir com a bola. Gostaria de jogar com mais frequência.

Você foi o melhor jogador da família?
Eu fui considerado o melhor da América Latina em 1992, fiquei entre os dez melhores quando estive na Europa e, mesmo assim, não foi suficiente para ser o melhor da minha família. Nós éramos em seis filhos e só o Sófocles era ruim. O Sócrates foi o mais genial, mas o Sóstenes era um centroavante muito bom, que jogou no Botafogo-SP. Já o Raimundo também era um craque como meia. E o Raimar virou profissional de basquete.

E de onde surgiram tantos craques assim?
Nós brincamos que a minha mãe devia bater um bolão, porque meu pai era péssimo. O seu Raimundo adorava futebol, mas não jogava nada. Ele teve uma vida muito pobre, então, tinha fixação de que os filhos estudassem. Tanto que o Sócrates, cotado para jogar na seleção, não pôde sair de Ribeirão Preto enquanto não acabou a faculdade de medicina.

O Corinthians foi eliminado na quarta-feira pelo Guaraní, cuja folha salarial é menor do que o salário do Sheik. Os paulistas, apesar de pagarem altíssimos salários, têm feito feio na Libertadores. Por quê?
Estamos próximos do caos, com os clubes pagando muito mais do que são capazes. É como a bolha imobiliária. E o pior é que todos estão endividados, devendo para todo mundo. Meu lado esperançoso é de que a solução costuma vir do caos.

Mesmo 15 anos após se aposentar, você é garoto-propaganda da Caixa, da Sony, da Accor, da Volkswagen… Ganha mais dinheiro hoje do que na época de jogador?
Se for comparar com o que eu ganhava de imagem, com certeza. Até porque, naquela época, tinha pouca coisa de imagem para os jogadores.

Assim como no São Paulo, você é muito ídolo no PSG. Como viu a transformação do clube francês após ele ter sido adquirido pelo catariano Nasser Al-Khelaifi?
É um projeto muito audacioso, com objetivo de fazer do PSG o maior do mundo. E foi uma grande sacada, porque os catares pegaram um clube não tão caro na comparação com o Manchester City, por exemplo, mas que está em uma capital europeia, com torcida, tradição.

Mas o PSG poderá ser, um dia, do tamanho de Real Madrid ou Barcelona?
Acho que vai demorar um pouco, mas vai chegar lá. Os donos do clube não vão se contentar com menos do que isso. Tanto é que já há uma pressão sobre técnico e jogadores para que o PSG chegue, ao menos, na semifinal da Liga dos Campeões.

O Corinthians foi o seu grande freguês na carreira?
Foi o clube que mais marcou, desde a época em que eu jogava no Botafogo-SP. Coincidiu de o Corinthians ser o grande rival do São Paulo, na minha época. Tive grandes vitórias e algumas derrotas, como na semifinal do Brasileirão de 1999, quando perdi dois pênaltis. Mas fiz três gols neles em uma final do Paulistão, em 1991, fiz dois em outra decisão, em 1998…

Qual o futuro da seleção brasileira?
Tem dois lados: a opção pelo Dunga foi acertada, porque é um treinador que teve ótima passagem pela seleção, em 2010, e está se preparando bastante. Ele, por exemplo, foi falar com o Mourinho, com o Guardiola… Agora, a questão da gestão da CBF não mudou. Não sei até quando essa gestão ultrapassada vai atrapalhá-lo.

Como as pessoas reagiram à goleada por 7 a 1 sofrida pela seleção, na Copa passada, nos contatos contigo pelo mundo?
Em geral, as pessoas ficam constrangidas de falar comigo sobre isso, com um olhar de dó. Só os argentinos que não se intimidam.

Um placar tão elástico foi um acaso, na sua opinião?
O tamanho da derrota, de sete, não foi acaso, por toda a falta de planejamento da seleção, que trocou de técnico na véspera da Copa, não tinha padrão de jogo, se perdeu emocionalmente por jogar em casa…

Nenhum comentário:

Postar um comentário